Como o "lip combo" se tornou uma obsessão de beleza com combinações infinitas?
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Muito além de uma tendência, esse produto celebra uma história de décadas recheada de identidade, força e estilo
Se existe um produto de maquiagem que consegue atravessar gerações, estilos e movimentos culturais, é o lápis de boca. Presente nos nécessaires desde os anos 1950 – durante a era de grandes estrelas de Hollywood, como Marilyn Monroe – , ele já foi símbolo de sofisticação, ousadia e identidade cultural. Agora, ele retorna ao centro dos holofotes com uma força renovada, impulsionado pela tendência dos lip combos – a combinação estratégica de lápis, batom e gloss para criar bocas cheias de personalidade e dimensão.
Muito além de uma simples técnica de maquiagem e obsessão estética, essa prática transformou a forma como enxergamos e fazemos o contorno e a finalização dos lábios. Mas o que muitos talvez não saibam é que essa tendência não surgiu do nada – e nem de agora –, ela tem raízes profundas na história da beleza, principalmente entre as mulheres negras e latinas, que usaram o lápis labial como uma ferramenta de expressão, resistência e afirmação cultural nos anos 1990.
Hoje, com técnicas renovadas e um olhar mais voltado para a personalização, o lip combo se tornou uma maneira de criar efeitos únicos nos lábios – seja para aumentar visualmente o volume, para dar um acabamento natural ou para ousar em looks artísticos e cheios de estilo. E, nesse movimento, o lápis de boca prova mais uma vez sua versatilidade e relevância.
Para entendermos melhor esse fenômeno e mergulharmos nas transformações que ele atravessou ao longo das décadas, conversamos com a Katia Celene Araújo, National Artist da M.A.C Cosmetics no Brasil. A seguir, confira tudo sobre a evolução do lápis de boca, o boom dos lip combos, as melhores combinações de produtos e, claro, a importância de respeitar e valorizar as origens dessa tendência icônica e que não vivemos sem.
O que é um lip combo e qual sua história?
“O lip combo é a combinação de dois ou mais produtos para construir um efeito de lábios personalizado – geralmente misturando lápis, batom e gloss”, afirma Katia Celene Araújo à Glamour. A prática surgiu em 1920, sendo utilizado por uma das maiores it girls da época: Clara Bow, e depois Marilyn Monroe trouxe ainda mais visibilidade para essa prática de maquiagem.
Entretanto, foi nos anos 1980 e 1990 que o lápis de boca teve um retorno definitivo, graças às comunidades negras e latinas, que não se sentiam representadas no universo da maquiagem – visto que as cores mais escuras eram destinadas à lápis de boca e olhos. “Nos anos 90, ele voltou com força, especialmente na cultura hip hop e R&B, usado para realçar os lábios com contrastes – lápis mais escuro que o batom, criando uma estática poderosa, de afirmação e identidade”, explica Katia. Naquela época, especialmente para mulheres negras e latinas, o lápis de boca mais escuro era mais do que estilo, era uma afirmação estética e identitária. “Era um jeito que as mulheres se viam poderosas, estilosas e presentes em uma sociedade ainda pautada por padrões de beleza eurocêntricos, que historicamente marginalizaram nossos traços, tons de pele e referências culturais”, destaca a National Artist da M.A.C Cosmetics.
Hoje, essa estética é ressignificada como símbolo de orgulho e autenticidade, mas com técnicas mais suaves e esfumadas, refletindo uma beleza contemporânea e fluida. Entretanto, “antes de torná-la viral, efêmera ou apenas mais uma tendência revisitada, é preciso reconhecer suas raízes e o contexto social de onde emergiu. O risco de apagamento cultural é real, e a beleza também é um campo de disputa simbólica”, enfatiza ela.
Por que o lip combo voltou com tanta força?
O retorno do lápis e dos lip combos atende a um desejo forte da geração atual: personalidade e efeito. “É uma ferramenta poderosa para desenhar os lábios, criar volume e brincar com contrastes. Mas o que poucos comentam é que esse retorno resgata práticas e estéticas que sempre estiveram presentes na beleza de mulheres negras e latinas, mesmo quando invisibilizadas pela indústria”, explica a profissional.
Porém, para além do fator moda e beleza, Katia alerta para a importância de reconhecer as raízes culturais desse fenômeno. Práticas de beleza que existiram em comunidades negras e latinas reaparecem como se fossem “novidades”, muitas vezes sem o devido crédito às culturas que as originaram. “O reconhecimento e o respeito dessa memória é tão essencial quanto a estética”, complementa ela.
A evolução da técnica
De acordo com Katia, hoje a técnica é mais leve – ao invés de criar contornos duros e muito marcados, buscam integrar o lápis ao batom, criando efeitos mais difusos e naturais. “Os acabamentos também mudaram, se antes o foco era totalmente matte ou ultra-glossy, hoje temos desde texturas aveludadas até glosses translúcidos que realçam sem pesar”, adiciona ela.
Como fazer o lip combo perfeito?
“O passo a passo clássico envolve contornar os lábios com lápis, preencher com batom e finalizar, se desejar, com gloss ou iluminador no centro da boca para dar mais dimensão”, ensina Katia. Ela ainda ensina um truque de ouro para quem tem medo de errar na hora do contorno: “aplique primeiro o batom e, depois, desenhe o contorno com o lápis. Isso facilita alcançar equilíbrio e acabamento mais harmônico. E não esqueça de preparar os lábios com esfoliante e primer – eles fazem toda a diferença na durabilidade e beleza do resultado final”, acrescenta a maquiadora.
Como escolher o lip combo ideal?
A graça dos lip combos está justamente em misturar tons. “O lápis não precisa ser da mesma cor do batom ou gloss. Aliás, é justamente a mistura de tons que permite criar efeitos incríveis – do ombré lips ao volume extra. O importante é entender qual efeito você quer causar: contraste, profundidade ou suavidade. Lápis mais escuros criam dimensão, enquanto tons similares trazem mais uniformidade”, aconselha Katia.
Entre as combinações favoritas da maquiadora estão:
Lápis apontável ou retrátil?
Ambos têm suas vantagens! Segundo Katia, os retráteis são mais práticos e macios, perfeitos para quem busca rapidez e acabamento difuso. Já os tradicionais, que precisam ser apontados, oferecem mais precisão para desenhar contornos definidos. “Eu geralmente prefiro os apontáveis para construir desenhos e os retráteis para esfumar”, afirma.
Lip combo: tendência passageira ou movimento duradouro?
Para Katia, o lip combo veio para ficar, mas mais do que isso: ele representa a liberdade de construir novas belezas enquanto reconhecemos e valorizamos as raízes históricas dessa prática. Hoje, temos mais liberdade para misturar tons, criar contornos estratégicos e construir nossa própria beleza, e isso é potente, “Espero que a permanência dessa trend venha com um olhar mais crítico e respeitoso, valorizando quem sustentou esse estilo muito antes de ele se tornar viral. A beleza também é memória e quando a gente ignora isso, perde o que há de mais valioso nela: sua conexão com o real”, finaliza.
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